Dantes escrevia de vez em quando aos filhos e aos netos, mas poucas vezes,
porque percebera que eles não tinham tempo de ler as cartas, o que era
natural – a vida de hoje era tão a correr e as pessoas sofriam muito, sobretudo
as crianças, de um lado para o outro. Saíam de casa de noite e entravam de noite.
Mas ela estava livre dessa correria: tinha todo o tempo por sua conta.
É verdade que, em alguns dias, ele era mais difícil de passar, mesmo vendo a televisão
até ao fim, porque já não tinha olhos para fazer malha.
Claro que muitas coisas ela tinha perdido com os anos: em parte os olhos, e muita da
-se saúde, mas sobretudo pessoas.