O pudor aflige a palavra amante, a qual, ao contrário do que acontece
nas demais línguas indo-europeias, não tem em Portugal o sentido simples
e bonito de «aquele que ama, ou é amado». Diz-se que não sei-quem é
amante de outro, e entende-se logo, maliciosamente, o biscate por fora,
o concubinato indecente, a pouca vergonha, o treco-lareco machista da
cervejaria, ou o opróbio galináceo das reuniões de «tupperwares» e de
costura.
Amoroso não significa cheio de amor, mas sim qualquer vago conceito
a leste de levemente simpático, porreiro, ou giríssimo.
Quem disser «a minha amada»
— ou, pior ainda, «o meu amado» arrisca-se a não chegar ao fim da frase,
tal o intenso e genuíno gáudio das massas auditoras em alvoroço.
Amável nunca quer dizer «capaz de ser amado», e, para cúmulo, utiliza-se
quase sempre no pretérito («Você foi muito amável em ter-me convidado
para a inauguração da sua Croissanterie»).
Finalmente um amor é constantemente aviltado na linguagem coloquial
, podendo dizer-se indistintamente de escovas de dentes, contínuos que
trazem os cafés a horas, ou casinhas de emigrantes
. (O que está a acontecer com o adjectivo querido constitui, igualmente,
uma das grandes tragédias ....."