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terça-feira, 29 de abril de 2014

VASCO GRAÇA MOURA


PASTORAL DA CULTURA
Em memoria de Vasco Graça Moura
É alguem  que ensinaUm poeta é algué a ver
O que é um poeta na terra? É alguém que ensina a ver. Alguém que não se conforma que o olhar dos homens fique capturado pelo breu, pela desesperança ou pelo medo. É alguém que nos infernos e purgatórios da história rasga saídas criativas, fendas para olhar mais longe, miradouros debruçados sobre um futuro outro, capaz de estilhaçar a fatalidade. Claro que a matéria de trabalho de um poeta é a palavra. Mas a palavra não é só palavra: é sede, é desejo de comunicar, é mergulho na realidade para a compreender melhor, é a sabedoria de perceber que o visível é também um signo do invisível e que não se pode separar o audível do inaudível, a palavra do silêncio. 
soneto do amor e da mortequando eu morrer murmura esta canção 
que escrevo para ti. quando eu morrer 
fica junto de mim, não queiras ver 
as aves pardas do anoitecer 
a revoar na minha solidão. 

quando eu morrer segura a minha mão, 
põe os olhos nos meus se puder ser, 
se inda neles a luz esmorecer, 
e diz do nosso amor como se não 

tivesse de acabar, sempre a doer, 
sempre a doer de tanta perfeição 
que ao deixar de bater-me o coração 
fique por nós o teu inda a bater, 
quando eu morrer segura a minha mão. 

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

Um comentário:

  1. Olá Amiga Luisa
    Um bonito poema de um grande homem das letras.
    Paz à sua alma.
    Um beijinho da
    Milú.

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